Por Marcelo Sena
Esta semana eu começo o processo de elaborar coreografias e preparação corporal para o filme EUCALIPTO, dirigido por Filipe Marcena. Foram sete anos de tentativas e muitas elaborações, reelaborações, reconstruções de roteiros e diálogos entre dança e cinema para fazer um filme que fosse centrado no corpo. Como filmar corpos que estejam pulsantes na tela e na relação com os outros corpos? São muitos anos vendo outros filmes e que trouxeram inspirações para elaborar o roteiro de EUCALIPTO e analisar o tratamento de um corpo em movimento.
Percebo que muitas das oficinas que ministrei sobre videodança e dos retornos que tive dos alunos e alunas, além das videodança que participei, me instigaram a tensionar cada vez mais a relação do corpo na frente da câmera, mas também como reeducar um olhar para o que é lido como movimento. É o movimento de algo na frente da câmera ou o movimento da câmera que nos dá essa sensação de movimento? Qual o modo de editar os cortes e ritmos para guiar nossos olhos piscando ou passeando pela imagem? Desta vez o que terá de dança nesse filme passa mais pela sensação de corpo, temperatura, volume, e toque do que por corpos coreografados. De como tornar esses corpos pulsantes.
É no interior de uma sauna que esses corpos precisarão trazer a arquitetura desse ambiente, mas também como eles irão preencher e se mover ali dentro. Como passar por corredores apertados, entrar em cabines pequenas, se espalhar numa pista de dança, interagir num bar, numa sala de TV, estando todos com uma única peça de roupa: um toalha branca? Despidos de muitos dos códigos pessoais que uma vestimenta pessoal pode exibir, permitir que os corpos quase despidos (ou totalmente despidos) revelem sua pele, seus volumes, musculaturas, posturas e gestos num lugar de refúgio para muitos gays que precisaram estar ocultos de um olhar heteronormativo e homofóbico. Um mundo paralelo, relativamente seguro, construído ao longo de décadas como um gueto, uma comunidade, um clube. O Clube das Gays!
É nesse clube que terei o desafio de coreografar danças, gestos e dinâmicas. É nesse clube que toda uma equipe de cinema terá também o desafio de documentar e ficcionalizar o que é estar numa sauna, mas também o que nosso corpo deseja quando decide entrar neste ambiente que cheira a eucalipto, suor e sexo.
Pés de eucalipto.