Blog . Terça-feira, 2 de novembro de 2010 . Liana Gesteira

Esse está sendo o ano de festejar os 10 anos da Cia. Etc. E, realmente, há muito trabalho e muita dança para comemorar. E foi nesse ritmo de muitas celebrações que foram feitas algumas remontagens. Nesse processo tive o prazer de me reencontrar com o solo “Rox, Xox, Fox” criado por José W Júnior para a bailarina Juliana Siqueira, em 2004, no projeto O Solo do Outro. Numa conversa de remontagem de solos criados por integrantes da companhia foi sugerido que esse trabalho fosse remontado com minha participação como intérprete. Foi um prazeroso presente, pois já era encantada com o solo desde que o assisti em 2004.

No dia 6 de outubro, revivi a experiência de colocar sapatilhas de ponta. Havia uns dez anos que tinha aposentado essas sapatilhas. Para “Rox, Xox, Fox” era preciso dançar com a sapatilha de ponta em um pé e um salto alto no outro. E usar um vestido de noiva surrado. Mais que isso, foi preciso vestir as contradições das imagens da série de quadros de Pedro Buarque, denominada Lolas, a qual serviu de alicerce para a criação desse solo.

Da Lola Fox apreendi o romantismo. Da Lola Rox a sedução. A Lola Xox me trouxe uma dor infinda no coração. A Lola Cox (a que tem a imagem nesta postagem) mais parecia uma bailarina deslocada. A Lola Tox é um estado permanente de força e fragilidade. Seus olhos marejados me serviram como elemento primordial para o solo. Algumas partes do corpo me chamavam a atenção nas Lolas: ombros, esterno, parte posterior do braço, olhos, estômago e coração. Muitos elementos para criação. E a cada ensaio eu saia da sala um pouco mutilada, como as Lolas dos quadros de Pedro Buarque. Sentia um extremo esforço para imprimir força onde existia, fundamentalmente, fragilidade.

Assim foi dançar “Rox, Xox, Fox”. Buscar a leveza da bailarina clássica que um dia existiu em mim. E encontrar a força para interpretar tamanha beleza cênica de uma Lola. Uma sensação de nostalgia e de estarrecimento. Um olhar emocionado de intensidade no coração.

Obrigada Júnior. Obrigada Cia. Etc. Dançar com vocês é um presente diário.