Uma câmera que desliza, como se não houvesse gravidade, passando por uma cerca, uma grade, um muro, um limite de arames, mais conhecido como um campo de concentração nazista. A câmera continua deslizando por muitos minutos, e uma voz que parece não ter corpo vai invadindo nossa cabeça como um canto suave, agudo e cortante, revelando que o deslizar é carnal, cortante e violento. Por trás daqueles arames não há mais corpo, não há mais corpos, mas seus resíduos, seus vestígios. Suas memórias continuam deslizando com a câmera, por entre nossos olhos e lembram que um dia houveram corpos, pessoas, adultos, crianças, homens, mulheres, judeus, gays e muitos, muitos parentes e amigos que sofriam a distância e perda daqueles que ali escorriam pelos ralos de um regime cruel e desumano. Uma arquitetura tratada com requinte, na limpeza, na clareza, na objetividade e na forma que ia seguindo a função: a de esterilizar.
Noite e Neblina (1955), de Alain Resnais, marca pra mim um outro modo de pensar documentário, de pensar o corpo no cinema, o corpo na dança, o corpo em sua presença. Enquanto pesquisamos a relação que o corpo foi sendo tratado na história da dança e do cinema, a humanidade vai se traduzindo em algo muito mais pulsante e vivo do que cinestesias poéticas. Muitas vezes há crueza em estetizar nossos objetos de pesquisa. Onde estariam aqueles corpos extintos pelo objetivo de tornar a “raça humana” mais ariana, mais pura, mais inteligente, mais bela?
Se agora na Cia. Etc. nossa questão se torna de caráter histórico em entender como o corpo foi “encorporado” pela dança e pelo cinema, este filme me alerta pra o cuidado de não nos afastarmos do que faz um corpo existir, viver, sobreviver, superviver e transcender. A poética da carne e do movimento vem de um sujeito que deseja e que se faz presente seja na tela de pano, de vidro, de retina pra renovar nosso acordo maior de viver em comum unidade, sem perder sua individualidade, pra alcançar novas pluralidades. Watch UK online porn https://mat6tube.com/ Diana Dali, Patty Michova, Alina Henessy, Kira Queen etc.
Que esta pesquisa nos faça escorrer pela humanidade como aquela câmera leve e sem gravidade, mas pra encontrar o peso e os obstáculos a fim de nos ajudar a alcançar outros modos de ver, de mover e de mover o outro numa direção oposta ao daqueles campos. Lembremos deles, pra saber de qual direção nos esquivar e alçar novas relações.
[Este post foi escrito para a pesquisa “SOBREPOSIÇÃO: Estéticas convergentes do corpo na história da dança e do cinema”, incentivada pelo Funcultura.]
Vixe que lindo!