Por Marcelo Sena
Assim que comecei a faculdade de Jornalismo, em 1998, soube de uma lição básica da área: a notícia precisa dizer antes de tudo: Quem? Faz o quê? Onde? Quando? Por quê?
2014, e uma das coisas que mais se desmanchou nessa nuvem pesada de informação que ronda todos os nossos aparelhos e papeis foi a figura de uma pessoa responsabilizada de dar a notícia: o/a jornalista. Mas o Quem? Faz o quê? Onde? Quando? Por quê? são obedecidos no dia a dia das redes sociais e da nossa necessidade, quase doentia, de estarmos informados.
- Mas quem somos nós? Quem pode dizer algo sobre nós? E nós podemos dizer quem é o outro?
- E andamos fazendo o quê? E o que andam fazendo de nós?
- Onde está a definição de quem somos? Onde fica registrado? Onde vemos e onde somos vistos?
- O “quando” parece não mais existir. A sensação é que podemos estar presentes para o outro a qualquer momento para atualizarmos quem somos ou em quem nos transformamos.
- Por quê? … essa pergunta leva tempo. E o tempo corre nesse nosso cotidiano empurrado sempre com força pra frente… ou pra trás… ou pro fundo… mas nunca um tempo que nos dê tempo pra entender o motivo e consequências do que estamos sendo.
Hoje li um dado bem interessante na Revista Galileu deste mês: “O primeiro like da história do Facebook foi dado em 9 de fevereiro de 2009. Cinco anos depois, os números mostram o ‘curtir’ como um dos maiores fenômenos culturais da atualidade. São 1,8 milhão por minuto ou 4,5 bilhões diários na rede social criada por Mark Zuckerberg.”
Por quê?
E um outro trecho: “Na era das celebridades instantâneas – em que ser famoso por 15 minutos, como propunha o artista Andy Warhol, está à disposição de todos – a relação se inverteu. Você é curtido porque tem seguidores, e tem seguidores porque é curtido. É uma questão de espalhar seu ‘eu’ nas redes sociais. Não importa o que você faz, tem de fazer ininterruptamente. É o ato de alimentar o tamagotchi da rede social.”
Por quê?
E acho que cada um deve ter uma resposta pra essas minhas provocações. Mas nem por isso, consigo pensar que essas respostas possam amenizar a sensação de uma obsessão, atualizada a todo instante, de continuar dizendo quem somos.
No dia 9 de maio, começamos na Cia. Etc. um exercício que acaba jogando com essas questões, ao propor que cada um começasse a fotografar coisas ou pessoas que identificasse alguém da companhia e fossem postadas nas redes sociais. E assim fomos nos definindo:
Este é Júnior:
Esta é Renata:
Esta é Elis:
Este sou eu:
Este exercício começou apenas entre os bailarinos e já está sendo extendido para outras pessoas da companhia.
E fomos ficando curiosos em ver como o outro nos vê. A diversão é certa, as surpresas já começaram a aparecer. Mas retomo a pergunta aqui:
Por quê?
Neste caso, o porquê vem de um processo criativo do próximo espetáculo da companhia, apontando uma direção para a motivação das fotos: dizer quem somos, falando do outro. Falar do outro, pra falar de mim. E na fala estamos sempre já atualizando quem somos, mesmo que falemos do outro. melhor site de aposta
As fotografias vão esboçando sensações e identificações que vão provocando a forma de ver e de falar, mais do que a construção de uma identidade do outro.
Mesmo falando do outro, estamos sempre falando da gente. Quando eu curto algo, eu falo mais de mim, do que do que estou curtindo. Por isso acho tão próximo a quantidade de “selfies” espalhada nas redes sociais da “Geração Like”.
Talvez todas essas redes sociais estão servindo de superfícies espelhadas para refletirmos nossas imagens de narcisos. Mas também podemos aproveitar a superfície espelhada para admirar o que está refletido atrás e acima de nós.
cadê o botão “curtir”?