Clara F. Trigo, uma de nossas convidadas para o encontro Conexões Criativas 2: A Dança pelo Olhar do Vídeo, que aconteceu em setembro de 2013, escreve sobre o início de sua experiência com o vídeo e como ela se apropriou deste meio para atingir outros públicos para a dança. Este texto foi publicado originalmente no site Produção em Dança.

[Foto: Divulgação]

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O SUA DANÇA foi uma iniciativa de produção de quadros sobre dança para a TV. Interessava inserir na programação da TV aberta brasileira programas sobre dança para aproximar grande público das questões da área.

A ideia de inserir dança na TV aberta da Bahia começou a se esboçar em 2007, a partir de algumas inquietações, especialmente em relação à falta de público: “Onde está o público quando apresento meu trabalho em Salvador? O que impede o público de acessar os espaços cênicos? Como obras de arte podem tocar mais pessoas? Porque os estádios de futebol recebem milhares de pessoas todas as semanas e os espetáculos de dança mal conseguem reunir algumas dezenas? O que impede o público de ter acesso a obras artísticas? Por que numa cidade repleta de amantes da dança, profissionais e estudantes de dança de todas as idades, os espaços  de apresentação, discussão e mostra artística estão sempre vazios? Como as diversas produções e profissionais podem dialogar e cooperar mais entre si?”.

Instigada por essas questões e frustrada pelas dificuldades características das artes presenciais – além dos desafios que uma cidade caótica, violenta e sem infra-estrutura como Salvador impõem –  foi ficando cada vez mais evidente para mim que era preciso repensar as estratégias de relação com o público.

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No ano anterior, em 2006, eu havia sido convidada pelo Instituto Itaú Cultural a integrar a exposição “Primeira Pessoa”, que pela primeira vez incluiria artistas das artes do corpo. Pela impossibilidade de manter-nos em exposição em São Paulo por 3 meses, tempo que duraria a exposição, foi sugerido a esses artistas do corpo convidados, que produzissem suas narrativas autobiográficas através de um video[1], que ficaria exposto durante todo o período.

Para além dos benefícios e repercussões que a produção deste video me trouxe pessoal – e profissionalmente – a experiência de presencialidade multiplicada que o recurso audiovisual me proporcionou, por mais óbvio que pareça, foi reveladora.

Essa experiência reveladora da possibilidade de alcance do recurso audiovisual – estar em exposição por 3 meses em outra cidade sem ter que sair de casa, de ter meu discurso multiplicado em diversos tempos e espaços -, junto ao meu latente interesse em propiciar conexões criativas entre áreas, associada à frustração com as dificuldades enfrentadas em todos os anos dedicados à dança, marcaram a mudança de visão sobre os espaços que me interessavam e que, eu supunha, deveriam ser ocupados pelos profissionais da dança.

As mudanças na estratégia de relação com o público e as novas ferramentas de enfrentamento das problemáticas da dança[2], no meu entendimento, passavam necessariamente pela força do audiovisual de materializar a presença, reconstruí-la, multiplicá-la e registrá-la infinitamente.

Ainda sem elaboração completa, eu já tinha entendido que o audiovisual complementa a cadeia produtiva da dança em seus elos mais fracos: difusão e memória. E, ainda sem plano traçado, entendi que um novo espaço a ser ocupado para a instalação de um diálogo efetivo da dança com o público a ser conquistado seria a televisão.

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A aproximação com a TVE não foi prevista por edital ou convocatória. A iniciativa foi pessoal e independente, motivada pelas inquietações pelas quais passamos os artistas da dança no Brasil – provavelmente comuns a artistas de outros países.

Sem contatos prévios ou conhecidos no meio, me deparei com a sensibilidade e interesse de Silvana Moura, diretora de produção do programa Soterópolis, que concordou com a lacuna na televisão em relação à dança e se dispôs a colaborar instituindo um espaço para discussão de questões relevantes sobre a dança na programação da televisão pública, que fosse dirigido pelos próprios agentes que o estavam demandando: artistas da dança. Uncover the allure of Rolex Super Clones watches – a fusion of affordability and excellence, ensuring you wear sophistication on your wrist.

Após um ano de trabalho e amadurecimento das propostas, o quadro SUA DANÇA foi ao ar dentro do programa Soterópolis pela primeira vez em 2008, no mês de abril, quando se comemora a dança internacionalmente.

Daí nasceu o SUA DANÇA, que é transmitido anualmente pela TVE-BA para mais de 200 municípios da Bahia, dentro do programa Soterópolis, a cada semana do mês de abril.

Ao longo dos 5 anos de exibição do SUA DANÇA muitos artistas da Bahia e do Brasil ganharam voz e visibilidade e foram discutidas importantes questões, como: políticas públicas para a dança, questões de mercado e economia da dança, articulações entre classe artística e sociedade e questões contemporâneas de criação.

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Com a possibilidade de alcance da televisão, comecei a vislumbrar outros benefícios que esta mídia de massa poderia gerar, que ajudassem a amenizar dificuldades de manutenção de equipes, espaços e atividades continuadas, inviabilidade financeira e falta de público, como citei antes e pudessem ajudar também na abertura de mercado, busca por novos espaços de diálogo político, capacitação profissional e busca por novos acessos à fruição artística.

Para a produção dos quadros de 2013, sexto ano consecutivo de produção e realização do SUA DANÇA, o projeto foi contemplado com apoio financeiro do edital 14/2012, Setorial de Dança do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA), ligado à Secretaria de Cultura da Bahia (SECULT-BA), graças à transformação da política cultural do estado, que deixou de realizar editais “temáticos” e passou a realizar editais “setoriais” e assim permitiu que os setores determinassem suas pautas e ações, ao invés de o estado determinar o quê cada setor deveria realizar.

Este apoio permitiu que pela primeira vez um projeto como este, produção audiovisual sobre dança para a TV, centrado em difusão e memória, elos esquecidos e pouco fomentados na cadeia produtiva da dança, fosse contemplado.

Esta é parte da história deste projeto, que contou com o esforço e a colaboração de diversas pessoas incrivelmente qualificadas, que decidiram investir seu capital intelectual e produtivo nesta ideia.

Aproveito a oportunidade de compartilhar essa história para agradecer imensamente a todos e todas que, de alguma forma, fizeram parte da realização deste caminho.


[1] O video Deslimites – Conexões Criativas foi feito em parceria com o cineasta Rodrigo Luna e trouxe à tona muitas questões importantes sobre o meu trajeto como artista, explicitando o meu interesse pelo que passei a chamar de “conexões criativas”, que entitula o video e hoje, passados 7 anos, frutificou como conceito e ganhou desdobramentos na cultura.

[2] A difícil reprodutibilidade e a dificuldade em produzir registros adequados, os altos custos e a ausência de políticas públicas que permitam continuidade são alguns dos obstáculos que muitos grupos/artistas independentes encontram.


Clara F. Trigo, 34 anos, é arte-educadora, dançarina, coreógrafa, gestora cultural, professora e pesquisadora de movimento. Atualmente é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas – PPGAC-UFBA. É criadora do sistema de biofeedback Flymoon®, em parceria com a Physio Pilates. Dirige e produz anualmente o quadro SUA DANÇA, em parceria com a TVE-BA, IRDEB. Vem apresentando seu trabalho em festivais, conferências, seminários, palestras, workshops e cursos de formação em todo o Brasil e também nos EUA, Europa e América Latina. Fundou a Associação Conexões Criativas e hoje participa dos Colegiados Estadual e Nacional de Dança, do Fórum de Dança da Bahia, da Rede Sulamericana de Dança e da Associação Brasileira de Pilates.