Março de 2004
O espetáculo “Silêncio” me arrebatou.
A primeira reação de maravilhamento talvez adviesse da trilha sonora original, a inspiradíssima composição musical de Marcelo Sena.
Mas, numa segunda percepção, – reflexiva e emocional – é todo o trabalho que me tomou por inteiro. Isto é música, movimento, expressão, luz, a coreografia e a interpretação, o desenho dos elementos em cena, o todo pulsante, minimalista e amplificado, me empolgam, indissociáveis. O esmero e o bom acabamento transparecem em cada lance. Harmonia e técnica adentrando no reino do patético, do perigo, do risco, devolvendo a imagem do homem engrandecida e sofredora, inacabada, interrompida, real frágil a absoluta.
Há momentos soberbos, quando perto do final, dois intérpretes nas extremidades do proscênio evocam a condição humana em seu desespero o uivo, o urro, o silêncio mais que ecoante de um Munch, o grito engolido na ponte noturna e irrecusável para a qual nos dirigimos em fatal travessia.
Mas não há momento algum de queda ou tédio. Tudo vibra, se entrosa, eletrifica. Nada se arrasta, parece demais ou precário. O conjunto é de uma maturidade e uma aflitiva beleza.
Não saberíamos escrever com frieza e objetividade sobre esta criação, que surpreende e conturba.
Dizia Pascal só admirar “ceux qui cherchent en gémissant”- gemidos amordaçados numa procura tão dolorosa quanto incessante, a imagem da vida, da alma e do corpo num só alcance, único, inquieto, espantoso.
Como lamento não ter testemunhado o itinerário percorrido do regional ao mítico: Ou, antes ainda , não ter dividido a experiência “A Flor da Pele”.
Mas, agora, vejo algo extremamente generoso, maduro, sutil, intuitivo e bem pensado, solitário e contagiante. Nunca apelativo ou demagogo. Sempre honesto, consciente, profundo, enriquecedor.
Parabéns e obrigado, jovens da Etc.
Continuem, por favor.
Rubem Rocha Filho foi escritor, ator e dramturgo. Bacharel em Ciências Sociais pela antiga Universidade do Brasil e mestre em artes cênicas pela Universidade de Wesleyan, em Connecticut (EUA). Nasceu no Rio de Janeiro, mas desde 1968 atuou no teatro pernambucano. Na época, chegou ao Recife para dirigir o Teatro Popular do Nordeste, a convite de Hermilo Borba Filho. Passou a década de 70 na Europa, produzindo e escrevendo programas para a BBC de Londres. Voltou a Pernambuco em 1979 onde, desde então, dirigiu e atuou em inúmeros espetáculos. Entre suas encenações de maior sucesso estão Equus, Da práxis à dramática e O anjo azul. Atuou ainda em dezenas de filmes, a exemplo de Baile Perfumado (Dir. Lírio Ferreira e Paulo Caldas) e Lugar Comum (Dir. Leo Falcão). Também foi autor de obras literárias infanto-juvenis adotadas por dezenas de colégios brasileiros, como Tilico no meio da rua, A batalha dos mamulengos e O segredo do mar tenebroso. Faleceu em 28 de maio de 2008. (Biografia editada a partir do Jornal do Commercio)
…………………………………………………………………………………………………………………………………
CONTEÚDO RELACIONADO:
…………………………………………………………………………………………………………………………………
Silêncio
oixa queria saber mas sobre a biografia dele fiquei enteresada e queria sa saber apreder mais e mais…….