[Por Liana Gesteira]

Já estamos há quatro meses desenvolvendo a pesquisa Corpo e Vídeo, e a cada encontro de discussão ou de prática parece trazer um mundo de possibilidades do saber e do fazer. Em contato com a história da relação entre as linguagens da dança e do cinema nos deparamos com a força dos musicais nas décadas de 30 a 50. Muitas referências revisitadas como as produções de Carmem Miranda e os filmes “Dançando na Chuva”, “A Noviça Rebelde”, “O Mágico de Oz”, até os desenhos da Disney. Mas houve também descobertas, como as obras de Busby Berkeley, com suas mandalas de bailarinas e a surpresa de saber que a música “Singing in the rain” já tinha sido encenada no filme “The Hollywood Review of 1929”, ou seja, anos antes da versão inesquecível de Gene Kelly, no filme “Dançando na Chuva” de 1952.

A revisão de referências e os novos dados encontrados no caminho dessa pesquisa vão construindo uma nova consciência histórica dessas duas linguagens que estamos estudando: a dança e o vídeo. A reflexão mais imediata que fazemos desse período é que a câmera se colocava ainda a serviço de uma visão panorâmica do que estava sendo dançado. Havia pouco movimento e interferência dessa câmera no corpo de dança. E sendo assim, o corpo do espectador se apresenta mais contemplativo nesse contexto.

Trazendo a discussão para a produção de videodanças, percebemos que nosso interesse passa por promover um estado de corpo mais ativo de quem assiste. Suscitar movimento fora da tela. Esse parece o caminho do fazer que estimula o desejo de um grupo, como a Cia. Etc., em querer trabalhar com o diálogo dessas duas linguagens. Se o que nos interessa enquanto artistas é a pesquisa do corpo, um vídeo por nós produzidos precisa passar por esse corpo, dentro e fora da tela.

O gênero do musical que estudamos estava organizado dentro de um contexto em que a própria tecnologia não oferecia oportunidades de movimentos de câmera, pelo seu peso e tamanho. O fazer desse gênero, concentrado nos anos 30 e 50, principalmente nos Estados Unidos, tinha também seus propósitos políticos e sociais diante da quebra da bolsa de Nova Yorque e da Segunda Guerra Mundial. E como seria pensar o contexto atual para esse gênero? Que possibilidades as tecnologias de hoje nos trazem para revisitar o fazer do musical? O que permanece e o que se modifica? São caminhos válidos para uma experimentação artística dentro de uma pesquisa de videodança.

Assista à primeira vez que a canção Singin in The Rain foi ouvida no cinema, no filme The Hollywood Review of 1929, que seria imortalizada por Gene Kelly no filme homônimo de 1952.