19 de abril de 2013 foi o dia em que Caio Lima retomou a pesquisa sobre “corpo e som” que a companhia vem tendo desde a criação de IMAGENS NÃO EXPLODIAS, espetáculo de 2008, que partiu da relação entre o corpo/dança e o som/música. Caio entrou na Etc. em 2010 aprofundando e contribuindo para ampliar a própria concepção de música e audição que a companhia vinha trabalhando, além de integrar a companhia como criador de trilhas sonoras.

Nesta retomada, Caio trouxe um programa de investigação, distribuído em 10 dias, para contribuir também em seu curso de Música da UFPE. Serão 10 dias (cada um com 2 horas) de experimentações, criações e conversas a partir dos seguintes conteúdos:

1º dia) O Pulso, o Ritmo, a Melodia, a Polifonia, a Poética Musical;
2º dia) Pulso e Ritmo;
3º dia) Melodia, Monofonia, Canto Responsorial, Uníssono, Modos;
4º dia) Melodia, Música Modal, Aparelho fonador, Rousseau;
5º dia) Melodia, Polifonia, Canto, Composição, Música Modal, Intervalos;
6º dia) Polifonia, Contraponto, Fuga;
7º dia) Notação musical, Clave de sol, fá e dó; Homofonia em Monteverdi, Palestrina, Purcell, Schumann; A Série Harmônica, Música das Esferas, Pitágoras e Platão;
8º dia) Intervalos, Harmonia, Sistema Tonal, A Sonata;
9º dia) O Dodecafonismo, o Serialismo e a Sagração da Primavera;
10º dia) Cage, Reich, Stockhausen, Schaeffer, Part, Ecologia Sonora.

Referências.

BENNETT, Roy. Forma e Estrutura na Música. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1986.

BENNETT, Roy. Elementos básicos da música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Ensaio sobre a origem das línguas. São Paulo: Nova Cultural, 1997.

SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante/R. Murray; tradução Marisa Trench de O. Fonterrada, Magda R. Gomes da Silva, Maria Lúcia Pascoal. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.

SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora/R. Murray Schafer; tradução Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Conversas. Trad. Fábio Landa; Eva Landa. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

TOMAS, Lia – Musica e filosofia, estética musical. Editora Irmãos Vitale. Coleção Conexões Musicais.

SCHAEFFER, Pierre – Tratado dos objetos musicais. Editora UNB.

MERLEAU-PONTY, Maurice, Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. – 2- ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1999. – (Tópicos)

WISNIK, José Miguel. O som e o Sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

GROUT, Donald. PALISCA, Claude. História da música ocidental. 3º ed. Lisboa: Gradiva, 2005.

CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro da história da música: da idade média ao século XX. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

CORTAZÁR, Júlio. História de Cronópios e de Famas. 12º edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

____________, Arnold. Exercícios preliminares em contraponto. São Paulo: Via Lettera, 2001.

FUX, Johan Joseph. Gradus ad Parnassum. Tradução de notas, prólogo, revisão e edição feita por Hugo L. Ribeiro. 2002.

Neste post iremos expor nossas impressões de um exercício de escuta, proposto por Caio, no primeiro dia dessa nova fase da pesquisa, que consistia em apenas fechar os olhos e ficar atento à própria escuta do ambiente em que estávamos (República Etc.). Se quiser contribuir com a gente, deixe aí embaixo os comentários, com certeza iremos ler e discuti-los nos próximos dias da pesquisa.

IMPRESSÕES DE ELIS COSTA:

Pesquisa Corpo e Som - desenho de Elis Costa

IMPRESSÕES DE RENATA VIEIRA:

Sempre tive dificuldade em me concentrar nas coisas. Quando Caio propôs o exercício, pensei que ia ser bem complicado (como sempre é) pra conclui-lo com tranquilidade, e logo no início fui pega de surpresa.

Quando eu era pequena tinha o hábito de fazer exatamente o que foi pedido para nós agora. Fechava os meus olhos e escutava. Escutava na esperança de captar algo incomum, eu acho. Sem saber que só o fato de eu estar sem a visão já era “incomum”.

A minha surpresa foi com a facilidade que eu tive em entrar na história, mas como meu foco não é MESMO de ferro me perdi no meio do caminho. Em meio ao som de pássaros, martelos, buzinas, bregas, crianças, patinhas caninas arranhando no chão, caminhão e areia os meus pensamentos vaguearam em lugares que não lembro. Nesse rápido momento de devaneio começou a chover e foi como se eu tivesse acabado de voltar de um lugar distante, os pingos tão repentinamente frenéticos indo de encontro às superfícies me despertaram a atenção de novo. Lindo.

Quando menos espero sinto uma mão no meu ombro, me avisando que o tempo tinha esgotado. Hora de voltar a “enxergar”.

IMPRESSÕES DE MARCELO SENA:

PARAR = se não for parar o corpo para uma aula de dança, tenho uma relação menos tranquila. Penso que deve ser a mesma dificuldade que alguns alunos meus sentem quando eu peço para parar antes de começar uma aula de dança.

A multidimensionalidade do espaço = as primeiras orientações (trás – frente – lado – cima – baixo – alto) são sensações próximas da matemática básica, mas que sabemos que dali ela pode se converter em contas muito complexas, assim como pensar a multidimensionalidade do espaço. Explodir esse espaço é uma tarefa difícil para tornar o som que ocupa esse lugar mais consciente, sem cair nas relações mais simples, como o perto e longe, esquerda e direita.

Passo a tentar encontrar sentido nas conexões entre a ordem da tomada de consciência sonora e da sobreposição dos sons. Deste jeito, tudo parece virar música com bastante facilidade.