Blog . Terça, 8 de agosto de 2012 . Liana Gesteira

“Repetir repetir – até ficar diferente”.
Manoel de Barros

Finalizamos o mês de julho com a discussão de um recurso bastante utilizado na composição da dança contemporânea nas últimas décadas: a repetição. A provocação veio do texto “Repetição, revelação e transformação: o loop na estrutura da videodança”, de Katrina Mcpherson e Simon Fildes. Após a discussão, a escuta de músicas minimalistas e visualizações em vídeo de algumas obras que se utilizam desse recurso, saímos do grupo de estudos formulando e detectando repetições no mundo. Formulando e detectando repetições no mundo. Repetições no mundo. No mundo.

Mas o que é a repetição? Uma imitação de algo que já passou e que por isso não acrescenta em nada? Apenas uma cultura do ‘copia, corta e cola’? Uma reapresentação de significado? Uma destituição de sentidos? O que é a repetição em uma obra de arte?

O texto nos traz referências de Pina Bausch (ver Café Muller):
http://www.youtube.com/watch?v=oYXjk_qn3cQ

Trisha Brown (ver Accumulation):
http://www.youtube.com/watch?v=86I6icDKH3M

E Steve Reich (músico minimalista) e Jonathan Burrows (ver Hands)
http://www.youtube.com/watch?v=XolnwmdzNlA

(ver também Speaking Dances):
http://www.youtube.com/watch?v=gg2EJO9zwws

Esse último surgiu como novidade para o grupo – para ilustrar diferentes usos de repetição nas artes. E a partir daí discutir o uso da repetição como recurso para uma “montagem transformativa estrutural” na videodança.

E então fomos detectando a recorrência da repetição, repetição, em outras experiências do grupo. Na citação de Manoel de Barros trazida por Jaqueline Vasconcelos em sua oficina, em maio deste ano. Na proposta de sensação de loop contida na videodança MAXIXE:
http://youtu.be/RxCiJTdURD0

E na coreografia ‘minimalista’ do espetáculo IMAGENS NÃO EXPLODIDAS. A vontade, então, foi de repetir, repetir – até ficar diferente.

E assim surgiu mais uma proposta de videodança, inspirada na coreografia ‘minimalista’, que se utiliza de movimentos saltados e repetidos. Os saltos se repetem, repetem, em diferentes estruturas espaciais e de ritmo, de forma que ficam diferentes. E unimos a essa proposta coreográfica já existente, o pensamento de utilização de plano e contra-plano nas imagens do vídeo, de forma a enfatizar o lugar do diferente do que está se repetindo, repetindo. Durante a semana fizemos um pequeno experimento dessa proposta e o resultado está se transformando em uma videodança. (Em breve postaremos um trecho desse experimento).

Ficou em mim, dessa experiência toda, a reflexão sobre uma antiga discussão: a necessidade da ‘originalidade’ na criação artística. Fica a sensação que a consistência vem da recorrência. De aprofundar uma idéia que se reapresenta. De transformar o que nos repete, repete. Assim surge a próxima videodança da Cia. Etc.

“A repetição não muda nada no objeto repetido, mas de fato muda alguma coisa na mente que o contempla.” David Hume – A Treatise de Human Nature. 1740 (Tratado sobre a Natureza Humana)