27 de janeiro de 2012 . Publicado no blog Janeiro em Cena

Nem tudo me agrada em Dark room, espetáculo da Cia. Etc. mostrado ontem, na Casa Mecane, na Boa Vista. Foram duas sessões, às 19h e 21h, absolutamente lotadas, com cerca de 70 pessoas cada. Antes de entrar na sala, o público é intimado a tirar os sapatos e recomendado a ter cuidado por onde pisa, pois a iluminação de leds pode causar acidentes indesejados. Ao pisar o chão do espaço, uma pelúcia bem macia nos aguarda.

E o que virá a partir daí passa pelos desejos e questões da sexualidade, numa montagem na qual o espectador se coloca como voyer. Me fez lembrar um pouco a passagem de Zé Celso e o Teatro Oficina pelo Recife, com trabalhos em que plateia e atores se misturavam, nem sempre com a permissão de quem foi lá “apenas” para ver a performance dos quatro bailarinos – Liana Gesteira, Marcelo Sena, José W. Júnior e Natalie Revoredo, que estreava na ocasião.

No jogo de Dark room – ou Quarto escuro, numa tradução livre, vale simular um orgasmo, assistir a uma cena meio sadomasoquista, com Júnior batendo em Marcelo com uma camisa preta, ver os bailarinos nus, nas posições mais esquisitas. Pouca dança reside no trabalho, embora restem momentos singelos, como quando Liana e Natalie contracenam, trajando camisas masculinas sociais e calcinha. Ou quando eles giram em volta da sala, os rapazes carregando as moças nos braços, lembrando o espetáculo da Mimulus, de Belo Horizonte, sobre a loucura, apresentado durante a última Mostra Brasileira de Dança, no Teatro Luiz Mendonça. José W. Júnior encarnando uma libéluba contemporânea, com tapa-sexo, cílios postiços, sandália de salto alto e antenas que brilham no escuro, é algo que surpreende. É bem estranho, mas é bonito também.

Na cena final, em que alguém é escolhido ou sorteado na plateia para participar, é preciso decidir por uma parte do corpo e uma ação que os bailarinos se encarregam de realizar. Teve gente ficando boquiaberta, incrédula e gente com cara de constrangimento. Um trabalho que, definitivamente, divide opiniões.

FONTE: http://blogs.diariodepernambuco.com.br/janeiroemcena/?p=621