Blog . Sexta-feira, 7 de outubro de 2011 . Marcelo Sena
Saber o que vai acontecer durante o processo de criação, já vislumbrando o resultado final, é sempre um jogo de esconde-esconde. Surge argumentos, ideias musicais, plásticas, disposição espacial do público, dos artistas, do quanto precisaremos gastar… E assim vão sendo construídos todos os momentos da criação.
DARK ROOM foi a primeira montagem em que, dentro da Cia. Etc., decidimos não ir já para os experimentos práticos. Queria entender mais a fundo o que os teóricos vinham discutindo sobre sexo, gênero e identidade, para só, a partir daí, começarmos a questionarmos corporalmente. Não significa dizer que, enquanto estávamos estudando os textos, filmes, livros, espetáculos, performances, visitando exposições e vendo imagens na internet, o corpo não estivesse ali presente. Foi isso que me estimulou a “segurar” a criação, enquanto íamos resolvendo o corpo em outras experiências.
Tínhamos acabado de criar IMAGENS NÃO EXPLODIDAS (2008), que partiu bastante de estudos passados meus, enquanto músico, e fui relacionando esse conhecimento que eu já tinha, por minha formação de pianista, com os termos e aplicações na dança, trazendo as metáforas e jogos “matemáticos” do campo musical para jogar com a dança. Apesar de momentos distintos, não havia um “pensamento de dança”, enquanto tive minha formação musical, pois eu não trabalhava na área, e nem percebia nenhuma afinidade com a dança. Isso só veio a acontecer anos depois.
Queria dessa vez fazer diferente no procedimento inicial. O que são essas teorias sobre sexo, gênero e desejo? Depois que nos permitiríamos passar para um segundo questionamento: Como essas questões estão “incorporadas”? Entre 2008 e 2011 foi o período em que distribuímos essa metodologia; e apenas em 2011é que passamos para os laboratórios corporais mais específicos e direcionados para a criação do espetáculo. Antes desse período fizemos vários experimentos, mas sem o objetivo de serem desenvolvidos para uma futura cena.
Conhecemos diversos autores, artistas, pensadores e uma multiplicidade de “identidades sexuais” que foram encontrando lugar no nosso corpo, ao mesmo tempo em que nosso corpo ia encontrando espaço nessas reflexões. Para deixar aqui alguns nomes que foram muito importantes: Stuart Hall, Tamsin Spargo e Foucault. O documentário “Dzi Croquetes” também foi bem significativo.
Concordo plenamente, quando dizem que a obra do artista é além do artista. Acabamos de estrear DARK ROOM, mas isso não quer dizer que estamos plenos e satisfeitos com o que pesquisamos até aqui. Ainda há muito em nosso corpo (pensando na junção corpo + mente) que ainda está à espera de investigações mais profundas, detalhadas e potenciais desdobramentos. E não apenas para criações futuras, mas para o próprio amadurecimento do espetáculo.
Anotações no quadro branco que fica na sala de ensaio, após uma semana de laboratórios.