Eu tenho caminhado o caminho de existir. E a vida tem me parecido ser exatamente isso: um constante tornar-se após tornar-se. A gente vai atualizando a descoberta de si mesmo, dia após dia. Porque dia após dia vamos nos tornando outros também, atravessados pelo tempo, pelo outro. Nesta minha última atualização, fiquei feliz de perceber que ainda estava no caminho. Nem sempre foi assim: às vezes eu precisava voltar, tinha me perdido na estrada. Agora, outra mesma de mim, ainda caminhava a minha estrada. De onde estou agora, gosto de perceber que por intuição, ou por Deus, ou por mim, ou por tudo, deu tudo certo. E tudo passa a ser Tudo de novo. Eu danço para aprender a viver, para escorregar na vida ao invés de me entalar com ela. Pra ter repertório emocional, que depois dos 30 anos isso vale mais que currículo. Eu danço porque a vida fica mais fácil assim. Porque fica mais fácil assim me entender, entender o outro, aceitar, superar, alegrar-se. Danço porque prefiro o prazer. Porque sei que cada coisa que sinto ensina aos meus músculos uma qualidade. Porque desejo saber sentir a vida, para sentir que a morte não existe e isso sequer importar. Danço pra ter consciência do que é. E esse dia foi importante pra me lembrar disso. Ou pra me dar clareza, como quem acorda e está onde sonhara, como quem volta a tornar-se si mesmo – agora consciente de que nunca deixou de sê-lo. Tá tudo igual e diferente. Eu posso menos certas coisas, até porque não me disponho, mas posso mais tantas outras que hoje acredito serem mais importantes. Uma felicidade me ver mover enquanto o mundo arde e a ilusão desaba. Como um caracol, me desloco lentamente. Me arrasto até. Mas sigo a boa estrada, dentro da minha própria casa.