Um dos principais projetos de acervo de dança no país, o RecorDança, está completando a quinta etapa de manutenção e atualização, com recursos do Funcultura – sistema de incentivo do Governo de Pernambuco. Para marcar a finalização dos trabalhos, o RecorDança em parceria com a Associação Reviva, realiza no próximo dia 11 de dezembro, às 15h, no Miniauditório 01, do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (CAC/ UFPE), a Apresentação Pública da pesquisa inédita “Como o vídeo muda a dança?”, também incentivada pelo Funcultura e desenvolvida pela coordenadora do Acervo RecorDança e pesquisadora pernambucana Ailce Moreira com orientação da professora da Licenciatura em Dança da UFPE, Roberta Ramos.
A Apresentação Pública contará com palestras do diretor da Cia. Etc., Marcelo Sena, e do videoartista da Cia. Etc., Breno César, artistas que desenvolvem trabalhos ligados à área de videodança, tema do projeto, e também entrevistados na pesquisa. Marcelo discorrerá sobre a produção de videodanças como parte da criação contínua da Cia. Etc. e Breno sobre a influência da linguagem videográfica na criação de videodanças. Ainda como parte das exposições, a pesquisadora Ailce Moreira e a orientadora da pesquisa Roberta Ramos apresentarão um panorama histórico e aspectos dramatúrgicos que envolvem a produção de videodanças em Recife.
O projeto “Como o vídeo muda a dança?”, de Ailce Moreira, traz um levantamento histórico sobre a produção de videodanças em Recife, com entrevistas em audiovisual com nove artistas envolvidos na área, os quais são: Maria Eduarda Gusmão, Marcela Rabêlo, Adriana Carneiro, Lírio Ferreira, Marcelo Sena, Breno César, Irma Brown, Orlando Nascimento e Marcelo Pinheiro; e 21 novas obras que foram doadas ao Acervo RecorDança. A pesquisa foi desenvolvida em 12 meses e surgiu a partir de uma inquietação da pesquisadora com relação à escassez bibliográfica referente à produção de videodança no Brasil e, mais acentuadamente, em Recife.
“É um material de grande importância para a dança em nosso Estado, na medida em que contribui para um melhor entendimento e reflexão acerca da criação em dança em Pernambuco e suas influências dramatúrgicas. Além de configurar-se não apenas como objeto de interesse de estudiosos pernambucanos, mas também de pesquisadores do País inteiro, já que produz conhecimento numa área incipiente e em crescente desenvolvimento, estimulando, assim, a continuidade de produções científicas na área da dança”, destaca Ailce.
Linguagem recente – A videodança se configura como uma linguagem artística recente, que busca o diálogo entre o universo do cinema e o da dança. No Brasil, o primeiro registro desse formato de arte data de 1973, com o trabalho M3X3, da coreógrafa Analívia Cordeiro. Apesar disso, a produção de videodanças no país só ganha fôlego a partir do ano 2000. Todavia, é possível notar que Recife abrigou a produção de videodanças desde 1991, a partir de artistas que acabaram assumindo posturas vanguardistas na década de 90. Assim, a primeira produção artística de videodança na cidade, ainda sem essa nomenclatura na época, chama-se “Lua Cambará”, uma adaptação do espetáculo de mesmo nome do coreógrafo Zdenek Hampl, com direção de Marcelo Pinheiro, produzida em 1991. No ano seguinte, em 1992, o grupo Cais do Corpo, dirigido por Maria Eduarda Gusmão, também adaptou uma coreografia para o vídeo e produziu as videodanças “Elástico” e “Duo Elo”.
Como percebe-se, a produção de videodanças em Recife se deu muito cedo em relação ao surgimento dessa linguagem no Brasil, ainda que seus produtores não tivessem a apropriação necessária para legitimar suas criações como videodanças, à época de sua produção.
Não obstante a produção precoce, o Recife viveu um momento de estagnação no interesse pelo fazer videodanças, o qual só retorna depois dos anos 2000. Desde então, grupos e artistas independentes, como a Cia. Etc. e Orlando Nascimento, iniciam uma produção continuada de videodanças e o Recife acolhe três edições consecutivas (de 2007 a 2009) do Play Rec – Festival Internacional de Videodança do Recife, produzido pelo videasta Oscar Malta. Sendo assim, diante da forte produção de videodanças na cidade, tanto na década de 90 (quando praticamente não era conhecida essa forma de expressão artística), como atualmente, é que a cidade se mostra como um celeiro fértil e em contínua produção para o estudo reflexivo sobre o fazer videodanças.
É por isso que o foco da pesquisa de Ailce está em perceber como a dança se transforma a partir do olhar do vídeo, entendendo como se dá o processo criativo tanto para o coreógrafo, que troca o palco pela tela, como para o videasta, que transforma e direciona o olhar do espectador, através do recorte da câmera e da edição.
FONTE: http://agendaculturaldorecife.blogspot.com.br/2012/12/recordanca-finaliza-atualizacao-do.html