Acabamos de gravar uma Rádio Etc. em comemoração aos dois anos de estreia de TANDAN! é pra falar um pouco da experiência de estar circulando com esse espetáculo pelo país, com o Palco Giratório. Pra quem conhece esse projeto impressionante do SESC sabe o quanto é potente manter uma “longa temporada” de um espetáculo durante um ano, e apresentando para públicos com “sotaques” tão diferentes. São 45 apresentação por 22 estados do Brasil.

Essa nossa Rádio Etc. está sendo planejada há exatos dois meses, quando estávamos em Poconé (MT) e tínhamos finalizado três apresentações lotadas de crianças. Tínhamos vivido um delírio com essa imersão: três apresentações em apenas dois dias. Um trabalho maravilhoso de articulação que a querida Josenira, a coordenadora do SESC Poconé, conseguiu fazer pra lotar todas as sessões e nos apresentar aquelas crianças tão cheias de energia.

Dois meses depois, a gente consegue gravar nosso primeiro episódio da Rádio Etc. sobre essa circulação e logo depois de um dia de apresentação basicamente feita para “crianças acima dos 20”. Tem sido difícil falar sobre essa experiência, tem sido confuso tentar organizar algum pensamento mais sistematizado pra contar um pouco disso tudo. Mas tento aqui fazer meu primeiro post no blog da Etc. sobre o que sinto até agora.

Não sou marinheiro de primeira viagem nesse projeto do Palco Giratório. Em 2007 tive a oportunidade de viajar a convite do grupo Mão Molenga Teatro de Bonecos para ser o sonoplasta deles. Neste mesmo ano a Cia. Etc. aprovava seu primeiro projeto de circulação nacional com Sobre Nossos Corpos, criado e dançado por José W Júnior, Kleber Lourenço e Saulo Uchôa. Nesse projeto eu também era o sonoplasta (e acumulei a função também de produtor). Foi um ano de muitas viagens e eu nunca tinha viajado tanto em tão pouco tempo. Reconheço hoje que foi um grande aprendizado em diversos sentidos. 2007 foi um ano de eu conhecer o Brasil. E agora, 12 anos depois, entro novamente nessa grande viagem.

Talvez eu escreva ainda um pouco sobre as cidades anteriores que a gente já passou com TANDAN! pelo Palco Giratório (Fortaleza, Rio de Janeiro, Poconé, Porto Alegre, Montenegro, Campina Grande, João Pessoa e Belo Horizonte), mas hoje quero falar de Brasília.

Escrevo durante o voo para Manaus e o que primeiro me impressiona do público de Brasília foi a receptividade. A cada vez que concluíamos uma sessão (que dura 6 minutos com uma única pessoa) estávamos em contato com quem estavam no hall do teatro, e o rosto das pessoas esperando para serem chamadas era de brilhar os olhos. Os adultos foram se tornando crianças à medida que iam saindo, um a um, de dentro da sala de espetáculo. Queriam nos abraçar, nos dizer suas impressões, nos perguntar o motivo do espetáculo ser apenas para crianças, de como mais pessoas mereciam passar por aquela experiência, e de como saíam transformados daquela experiência. Sei que pra um artista escutar esse tipo de comentário resvala em seu ego e no orgulho de conseguir afetar o público desta maneira, mas TANDAN! é maior que a gente, assim como acredito que geralmente as obras de arte são maiores que seus criadores.

Em Brasília conseguimos ter curtos intervalos para escutar o que queriam nos dizer – e queriam dizer muita coisa. Era uma dose de energia a mais para continuarmos fazendo com tantas “crianças grandes” que aceitamos receber. Era o aplauso que nem sempre temos em TANDAN!, pois com sessões individuais, as pessoas não ficam esperando para esperar que a gente finalize e venha ao encontro delas. Inclusive tivemos três momentos de aplauso de fato.

Ali em Brasília abrimos as portas da sala mágica de TANDAN! para os pais, mães, técnicos do teatro, coordenadores de cultura, bailarinas e… as crianças.

Agora estamos indo construir nossa sala mágica em Manaus. Neste exato momento que escrevo esse texto estamos sobrevoando a floresta amazônica. E será lá no meio dessa mata, onde construíram uma cidade, que pousaremos pra mais uma experiência de deixar entrar mais sotaques nos nossos corpos, e realizar a grande mágica de fazer da arte um lugar de encontro de nossas imaginações, sonhos e desejos. Um lugar de encontrar pessoas e, por isso mesmo, também se encontrar, na brincadeira de inventar quem somos e quem é o outro.

[Foto: Mariana Libório]